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Resenha: A menina mais fria de Coldtown

By 15:19 , , ,


Sinopse: Os vampiros não existem... Pelo menos, era o que os próprios vampiros queriam que a humanidade pensasse. Mas um deles surtou e atacou mais humanos do que deveria, o que acabou com o anonimato. O vampirismo se tornou uma epidemia e para refreá-la, foram criadas as Coldtown – cidades transformadas em centros de quarentena cercadas por muralhas, onde coexistem vampiros, infectados e pessoas comuns. É nesse mundo que vive Tana, uma adolescente que acorda após uma festa de arromba e se depara com todos os seus amigos drenados até a última gota. Os únicos “sobreviventes” são Aidan (seu ex-namorado e que agora, está infectado) e Gavriel, um vampiro que, coincidentemente, é bonito e aparenta ter a idade de Tana. 

Eles devem se unir para chegar até Coldtown, uma aventura que será uma provação múltipla para Tana: ela terá que manter os dentes do ex longe de seu pescoço, superar a perda de sua antiga vida e resistir a Gavriel.


Pontos positivos:

  • Ótima ideia. Holly Black conseguiu inserir bem os vampiros – seres tão clássicos – na nossa realidade de tecnologia. Para atrair mais gente/comida para Coldtown, esses vampiros enclausurados usam canais de televisão, Youtube, redes sociais e blogs para mostrar como a realidade deles é glamurosa e divertida. E inúmeros jovens se interessam pela proposta... É interessante pensar como seria se os vampiros realmente existissem: quantos jovens não iam achar a vida de vampiro uma aventura e iriam escolher alegremente ir para uma Coldtown?
  • As Coldtowns são muito interessantes. Quando o povo chega lá, descobre que nem tudo são flores. Pessoas famintas que devem caçar insetos e ratos para sobreviver, crianças abandonadas jogadas pelo lixo, gangues de vampiros que lutam pelo poder, jovens que doam seu sangue nas festas vampirescas e durante o dia, cambaleiam pelos becos. Ler a respeito do cotidiano na cidade é o ponto alto do livro.
  • Personagens secundários. Jameson é um jovem que vive na cidade antes de ela se tornar uma Coldtown; Midnight é uma blogueira que quer se tornar vampira a qualquer custo. São apenas dois exemplos de personagens secundários que poderiam ter sido muito melhor desenvolvidos e que nas poucas partes em que aparecem, mostram-se mais humanos e verdadeiros que os protagonistas.
  • Vampiros. Eles são vampiros. Com tanta modificação nas lendas clássicas e vivendo numa era de vampiros cintilantes, me emociono com vampiros que morrem no sol, que tem caninos, sugam o sangue e são marcados pela luxúria. 


Pontos negativos:

  • Protagonista. Tana é uma personagem que já começa heroína: ela salva Gavriel mesmo não gostando de vampiros (na infância, a mãe de Tana foi infectada e tentou matar a própria filha), se torna uma espécie de líder do grupo na viagem até Coldtown e, finalmente, transforma-se numa justiceira heroína na cidade dominada por vampiros. Tana não tem defeitos e é heroica demais. Nunca recua, nunca desiste. Por ser tão incrível, não desperta empatia ou identificação e, no fim, descobri que eu estava pouco me importando com o que aconteceria com ela. Resumindo: não gosto de personagens perfeitos. 
  • Personagens tapa-buraco. Jameson, os irmãos Midnight e Winter, Aidan... E a lista continua. São personagens que, apesar de mais interessantes, não tem verdadeira contribuição na história. Até Gavriel é meio jogado de escanteio, perdendo espaço para a jornada de altruísmo e heroísmo de Tana. Mas os capítulos flashback que mostram o passado de Gavriel são bem interessantes.
  • Vilão. Non ecziste. Há um vampiro mais velho, Lucien, e acho que ele era para ter sido o vilão da história. Mas ele não faz nada demais e não convence como o malvadão – o que prejudicou o clímax. Sem vilão e com uma protagonista tão sem graça, como torcer? Como se importar com o destino dos personagens? Meu maior problema com o livro foi justamente esse.
  • Romance. Tenho a impressão de que Black precisava de um romance nesse livro. Algo como “livro sem romance não vende” e tentou empurrar um casal goela abaixo. Tana e Gavriel não têm desenvolvimento romântico e nada acontece para que o vampiro consiga vencer o trauma de infância da protagonista. Eles fazem a viagem juntos, chegam à cidade e cada um segue para um lado. Quando se reencontram, o sentimento já está maior do que deveria, tendo surgido magicamente. Simplesmente não há nada que justifique o amor.


Conclusão:

Holly Black teve uma boa ideia, mas desenvolveu-a de uma forma aleatória. Personagens aleatórios, enredo aleatório, final aleatório. Ideias não se sustentam sozinhas. De verdade? Se quer ler uma história de vampiros, leia André Vianco – autor nacional e de grande talento.  Embora A menina mais fria de Coldtown não seja descartável, está longe de ser memorável. É do tipo bom passatempo - leia e esqueça. 

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