A magia da leitura
Um filme não é a mesma coisa que um livro. A vida real, nem de perto vai parecer tão real quanto em um livro.
A perfeição de cada palavra repousando docemente nas paginas em branco. A textura da folha tocando nossas mãos e o suave som de farfalhar ao serem mexidas. A trilha sonora perfeita para cada momento. A história passando como se fosse um filme diante de seus olhos, substituindo as palavras.
E então o desespero começa. Mais do que em filmes, o livro toca-nos o coração como se fosse algo precioso, fazendo-nos passar mais do que duas horas na companhia dos personagens. Ficamos íntimos até mais do que de certos parentes.
Qual é a tragédia de ver um morto desconhecido estendido no meio do asfalto? Um saco preto impedindo que se veja o rosto disforme do sujeito? Na vida real você não dá importância (o que mais pode ocorrer é a curiosidade), nos filmes se passa como cena secundária, abalando o personagem.
No livro você vai ler os temores, os pensamentos perturbadores da protagonista, o pânico ou mesmo a loucura. Vai sentir.
No filme você acompanha o personagem, na vida real você não tem uma vida mais que monótona, já no livro se vive junto, sente-se junto, sonha e chora junto. É como se fosse a sua própria alma, vivendo separadamente, em um mundo paralelo, onde não se pode acompanhar, apenas observar.
Frequentemente fico me perguntando como frases juntas, interligadas em uma sucessão de acontecimentos trágicos, pode doer tanto a ponto de nos fazer beiras as lágrimas? Na felicidade ou na tristeza, o coração meio que falha, um bolo se cria na garganta e os olhos ficam vividos, querendo avançar mais um pouco. E logo nosso corpo libera a água acumulada nos olhos. O final feliz, a morte eminente.
Esses textos nos obrigam, mesmo involuntariamente, a lembrar do passado e planejar o futuro. E principalmente... a sonhar...
Sonhar...
E então, a emoção do autor e o desespero do leitor diante do ultimo ponto final. O símbolo do termino ou começo de uma vida inteira. Enfim o amor, enfim a felicidade eterna. Ou isso, ou o silêncio da morte.
Os livros não nos levam apenas à mundos diferentes. Fazem-nos ter sentimentos que poderíamos nunca ter. Amamos eternamente, mesmo na vida real estarmos apenas acostumados com a companhia do marido. Fazemos loucuras e podemos ter personalidades diferentes. Ou simplesmente ser quem somos. Liberar o verdadeiro "eu".
Essa é a magia. Ela é mais real que a própria vida. E muito mais dolorosa. Pois o príncipe encantado dos contos de fadas nunca virá, o lobo-mau nunca te atacará, proporcionando uma aventura, e muito menos a fada madrinha e o gênio virão realizar seus desejos. Mas o sonho, o sonho é possível. E por um momento te faz imaginar que o mundo é bom, que existe uma pessoa perfeita, mesmo com todos os defeitos possíveis e inimaginaveis, e que você pode ser o que quiser.
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