Crítica de Pânico, a série (Scream - The TV Series): Pilot
Tramas policiais? Dramas de jovens bonitos e ricos? Comédia? Não.
A tendência agora é o vermelho - e de preferência, espirrado pelo chão, pela roupa, pelo rosto.
O "terror" entrou em nossos corações pulsantes e se provou uma verdadeira mina de ouro para diversos canais. Desde as tripas apodrecidas de The Walking Dead, passando pelas histórias temáticas de American Horror Story, até chegar ao horror refinado de Penny Dreadful, as séries de terror arremataram uma legião de fãs que anseiam por algo que vá além de uma 1 hora e 30 min., que necessite de um desenvolvimento mais complexo do que matar 90% do elenco e deixar um final no estilo "to be continued".
As séries de hoje bebem numa fonte gigante de inspiração, afinal, temos por aí um exército de filmes que forneceram enredos clássicos: o inocente que é possuído pelo demônio, um vírus letal que zumbifica a humanidade, o espírito (s) vingativo que atormenta uma família. Porém, mais clássico do que todos esses exemplos, é o serial killer que mata jovens de forma aleatória (tanto que há até um sub-gênero pra isso - slasher). Massacre da Serra Elétrica, Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13, Halloween... Esses são os mais famosos, mas a lista vai longe. E a receita, basicamente, é a mesma: adolescentes que são vítima de um maluco que vai matando um a um com determinada arma, até que sobre apenas a garota (a mais inocente e boazinha do grupo).
Bebendo nessa fonte de clichês tão atrativos, um filme fez sucesso estrondoso na década de 90: Pânico. O enredo, a maioria conhece: numa pequena cidade, um assassino (com preferência especial por filmes de terror) vai matando adolescentes. Sua arma é uma faca e seu rosto é escondido por uma máscara. E a garota protagonista, que corre e corre, mas sempre é alcançada pelo assassino, terá que ficar viva até o final, para que possa haver uma sequência.
Reciclando essa receita, temos uma nova série que estreou pela MTV: Scream - The TV Series.
E o básico continua lá: o grupo de jovens (a maioria muito bem de vida), numa cidade do subúrbio, é aterrorizado por um assassino de máscara. Mesmo sendo o clichê dos clichês, esse enredo sempre me atrai... No entanto, não sei bem o que pensar do piloto dessa série.
Temos a protagonista, Emma. Filha da legista da cidade, ela namora com um atleta popular e, por tabela, é amiga dos amiguinhos populares dele. Ela é inteligente e gentil, mas se afastou de uma antiga amizade para pode adentrar no mundo do glamour high school - e essa ex-amiga, Audrey, foi vítima de um vídeo viral na qual aparece beijando uma outra garota. Como plano de fundo, temos a lenda urbana da cidadezinha: anos atrás, um jovem com elefantíase foi mantido recluso pelos pais, apaixonou-se por uma garota, sofreu bullying dos valentões, ficou revoltado e obcecado pela menina, matou geral, e foi morto por policiais - sendo que seu corpo baleado caiu num lago (Jason mandou oi).
Em meio a isso, temos os personagens de sempre:
Nina: popular, mimada, bitch oficial;
Brooke: vida sexual muito ativa, bitch n.2;
Will: atleta de caráter duvidoso, namorado de Emma;
Jake: atleta burro;
Noah: nerd inteligente, entendido do assunto (filmes de terror);
Kieran: novo na cidade, bonitão misterioso, possível novo amor da protagonista.
O início desse episódio também é previsível: depois de espalhar o vídeo de Audrey internet afora, Nina fica "sozinha" na sua enorme casa. Então, o assassino a apavora, ela é esfaqueada, tenta fugir e tropeça, morre. Nada demais. Mas tenho que perguntar - porque matar uma personagem interessante logo nos primeiros dez minutos? Nina não era apenas a bitch usual - era inteligente, manipuladora e engraçada. Tinha futuro. Por que não matar Brooke?
Enfim - todos ficam perplexos (ou quase todos) com o assassinato, mas Brooke, que agora é a bitch oficial do colégio, dá uma festa "em homenagem" a falecida, com muita bebida e jovens fogosos... Em outras palavras, um verdadeiro açougue de adolescentes disponível para o assassino. Ou não?
Um ponto positivo dessa série é que não há pressa para entregar litros de sangue para o espectador logo no primeiro episódio. Dá pra notar que os produtores querem desenvolver uma história... O ponto negativo é o meu temor de que o serial killer acabe se tornando um plano de fundo para os dramas adolescentes, como as indecisões de Audrey quanto à sua opção sexual, o relacionamento entre um professor e Brooke, triângulos amorosos... Como a série é da MTV, minhas preocupações se multiplicam. Espero de verdade que o contrário aconteça: que os dramas juvenis se tornem mero complemento para o enredo de suspense e terror.
Outro ponto negativo foi a falta de esforço. Senti que não houve muita disposição para elaborar uma história que, pelo menos, tentasse surpreender. Sim, a premissa é clichê, mas porque não usar isso como ferramenta para espantar? Desde o primeiro momento, deu pra notar que a mãe de Emma estava escondendo algo. E a história do assassino também se mostrou bem entediante. E aquele primeiro assassinato - a cabeça sendo jogada na piscina? Gente, que cabeça mal feita!
Há mais pontos positivos. Temos alguns personagens interessantes, com Noah, Audrey e Riley (menina de personalidade semelhante a da protagonista, mas numa versão mais simpática e menos boba). Eles têm carisma, coisa que Emma, a protagonista, não tem. Bobinha, gentil, certinha = zzzz. Contudo, se tem um ponto positivo extra nessa série é a proposta de que nem todos os personagens são o que parecem ser. Assim, fico na expectativa de que Emma também tenha seus segredos e de que a história do assassino vá bem além do que foi apresentado. Sem contar que sempre amo as várias referências que tanto o Scream original, quanto seus filhotes, fazem aos mais diversos filmes de terror.
Bem, vou continuar assistindo, até porque, as séries que eu costumo acompanhar só retornam daqui a alguns meses. Preciso preencher esse vácuo no meu coração.
Ah, e pra quem se interessa pelo gênero slasher, outra série também está vindo por aí: Scream Queens, contando com várias personalidades que os mais jovens gostam: um dos irmãos Jonas, Ariana Grande, Lea Michele. Normalmente, eu não me interessaria, mas um dos produtores de American Horror Story está envolvido, além da presença de Jamie Lee Curtis. E Emma Roberts interpretará uma menina arrogante e chatinha, coisa que ela sabe fazer muitíssimo bem. É um terror comédia, tipo Todo Mundo em Pânico. Aguardaremos.
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